27 de maio de 2025
O presidente de transição de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, manifestou a intenção de assumir um papel de destaque na condução da União Africana (UA), defendendo uma transformação profunda na forma como o continente se posiciona globalmente. Traoré propõe uma organização mais soberana, com prioridade na segurança regional, avanço tecnológico e autonomia em relação às potências ocidentais.
Desde que chegou ao poder em 2022, por meio de um golpe militar com a promessa de restaurar a ordem interna e a independência nacional, Traoré tem reforçado laços com nações como China, Rússia e Irão. Ele acredita que a África deve adotar uma política externa focada na cooperação entre países do Sul Global, citando como parceiros estratégicos na sua visão países como África do Sul e Brasil.
Para o líder burquinabê, a UA precisa evoluir de um órgão de consulta para uma entidade com peso geopolítico real. Entre as suas propostas estão a criação de uma força de defesa continental, o fortalecimento da economia interafricana e investimentos significativos em inovação produzida no continente. Em declarações recentes, Traoré defendeu que “a África deve romper com qualquer forma de dependência e assumir o controle do seu próprio futuro”.
O cenário em que suas propostas surgem é marcado pela instabilidade na região do Sahel, onde Burkina Faso, Mali e Níger formaram uma aliança militar para enfrentar ameaças extremistas e desafiar imposições externas. Essa postura tem aproximado Traoré de uma nova geração de africanos que o veem como símbolo de mudança e resistência ao neocolonialismo.
A possível candidatura de Traoré à liderança da União Africana pode significar uma guinada na orientação tradicional da entidade, que historicamente tem sido guiada por figuras diplomáticas mais moderadas. Sua ascensão poderia realinhar as prioridades da UA, com foco em soberania, inovação e defesa continental.
A proposta também reacende o debate sobre o panafricanismo e o protagonismo de lideranças militares jovens no redesenho do futuro africano. Traoré tem adotado um discurso fortemente anti-imperialista e defende uma integração baseada na força e na autonomia, desafiando os moldes convencionais da diplomacia africana.
Ainda é incerto se os demais líderes do continente aceitarão essa mudança de perfil na liderança da UA. No entanto, o nome de Ibrahim Traoré já é amplamente discutido nos bastidores da política africana, sinalizando uma possível reconfiguração das dinâmicas internas da organização nos próximos anos.